Tuesday, March 06, 2007

A mulher e a interrupção da gravidez

As mulheres já não vão presas mas o ónus da interrupção não lhes foi tirado de cima. Então onde está o marido, o namorado ou o companheiro? Um ser humano tem pai e mãe, independentemente de quantas semanas ou meses tem na barriga da mãe ou debaixo do sol. Certo é que a mulher tem direito a ouvir o médico a ouvir as consequências da interrupção da gravidez. Mas, médicos, não faleis só dos aspectos físicos, do perigo físico, pois estes, com a aprovação da lei, estarão grandemente controlados. Alertai as vossas pacientes para as sequelas emocionais de quem se separa de um filho - ou de um potencial filho em formação - tão cedo. Esta é a dimensão do problema que tem sido negligenciada. Quem já entrevistou mulheres que interromperam a gravidez sabe quantas dizem que se soubessem como iriam ficar emocionalmente marcadas para o resto da sua vida teriam procurado outras alternativas, outras soluções para os problemas com que se defrontavam, ou que antecipavam que teriam se tivessem aquele filho. Penso que a maior parte das gravidezes são interrompidas não porque a mulher, e até o casal, não queira ter o filho, mas mais por indisponibilidade para tomarem responsabilidade por mais um ser humano neste mundo e por razões económicas e logísticas. Agora que as mulheres já não vão morrer ou parar à prisão, é preciso dar-lhes a elas, aos seus maridos, ao casal o poder de terem aquele filho. Informação é poder! Para se tomar uma decisão consciente e responsável é imprescindível ter-se todos os dados, conhecer as diferentes alternativas, e quais os seus prós e os contras. E, claro está, o médico também deve abordar e discutir as questões da prevenção da gravidez com o casal e responsabilizar o marido por esta. Só através da informação e da responsabilização da mãe e do pai se pode evitar o uso abusivo da interrupção da gravidez e esta será de facto voluntária para a mulher. Se não esta não será voluntária para a mulher, e nalguns casos ela sentirá que não tem outro remédio se não fazê-lo, por receio que o marido a deixe, lhe bata ou a violente emocionalmente. Por isso senhores legisladores, deixemo-nos de ilusões, a despenalização voluntária foi apenas o primeiro passo, agora há que ter coragem para dar os seguintes. Se éramos o país mais retrógrado neste assunto da Comunidade Europeia, beneficiemos de termos a possibilidade de fazer leis que permitam abordar esta problemáticas nas suas diversas dimensões. Concordo convosco em que a mulher e o homem não necessitam de aconselhamento psicológico, mas sim de informações praticas que lhes permita resolver os problemas pragmáticos que mais um filho lhes coloca. Um apelo aos milhares de jovens que fizeram campanha pelo “não” e que avançaram com alternativas validas: organizem-se e ajudem a não deixar envelhecer a população do nosso País."

Artigo de opinião escrito por Virginia Matos(escritora) publicado no dia 06/03/07 no jornal Notícias da Manhã

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