Wednesday, July 11, 2007



Nostalgias


Hoje, quando cheguei a casa, só tinha o gato à minha espera. Tinha-me levantado cedo e deitei-me um pouco. Apesar de cansada o sono não veio ter comigo. Mais uma vez foi o gato que me fez companhia. Os animais, se os estimamos dão-nos muito e pouco nos pedem em troca. Na casa onde fui criada sempre houve um cão e um gato, mas o estatuto que lhes era dado era diferente, viviam na rua e só o gato raramente entrava em casa, mas dormir era na rua, eles procuravam os palheiros onde se guardava o feno, para dormirem. Fechei os olhos e fiquei com saudades dos cheiros da minha infância: o cheiro do pão acabado de cozer, no forno a lenha; o perfume da terra molhada, quando vinham as primeiras chuvas, e as crianças a chapinhar nas poças da água, nas ruas nuas de alcatrão; as árvores prenhes de fruta madura brindavam-nos com um perfume maravilhoso. E o cheiro dos peixinhos da horta fritos em azeite. São cheiros que estão muito ligados à minha infância hoje, já não lhes ligo. Há um tempo para tudo, hoje a minha face está enfeitada com algumas rugas e os meus cabelos embranquecem. Não posso permitir este envelhecimento, tenho de continuar a admirar os cheiros que me acompanham. Suspirar com tristeza e dizer “já não se fazem cheiros como antigamente” é sinal de envelhecimento. Morremos ou merecemos morrer, a partir do momento em que o passado nos começa a interessar mais do que o futuro. Ou os cheiros antigos eram melhores, vai dar no mesmo.

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