Wednesday, November 22, 2006

O Aborto

Ao ler o artigo de opinião, no jornal Notícias da Manhã de 21 de Novembro, que abaixo transcrevo e não querendo julgar ninguém, dei comigo a pensar: Como é possível pensar fazer um aborto alegando falta de meios para criar um filho. Salvo raríssimas excepções, o nascimento de um filho é uma benção. Sei do que estou a falar. Tenho quatro filhos. Criei-os com poucos recursos e sempre em infantários, a família estava longe. Passado estes anos, os sacrifícios que fiz para os criar foram compensados. Tenho quatro filhos maravilhosos que são uma das minhas razões de viver. Agradeço a Deus todos os dias o facto de eu ser contra o aborto e o Pai deles também. Em minha opinião deveria haver mais informação a nível: de planeamento familiar, conhecimento de instituições que apoiam e acompanham a mulher na caminhada de ser mãe, se esta precisar de ajuda(Ex. Ajuda de Mãe)


"A Outra Face do Aborto

O Presidente da Republica entrou em período de reflexão sobre este assunto. Independentemente de todos os “sins” ou “nãos” que fizerem parte deste processo, há, na minha opinião, outro aspecto do aborto que deve ser abordado com a mulher, e com o casal, principalmente se este for despenalizado. E assim...Rita ainda se emocionava quando via uma criança pequena a brincar. Ninguém a preparara para a dor emocional resultante de um… da interrupção de uma gravidez. Suspirou, nem conseguia dizer a palavra ‘aborto’. Pudera, esta caracterizava tão bem o verdadeiro problema. Algo que era bom, lindo e cheio de vida - uma promessa de felicidade - era interrompido e tornado numa coisa, aberrante, sem beleza e morto. Afinal, quem andava a mentir às mulheres? Ao falar com outras que fizeram o mesmo, apercebeu-se de que todas - sem excepção - sentiam que, tal como ela, haviam perdido algo de insubstituível. Algumas falavam, inicialmente, com aparente desprendimento, mas quando ela admitia a sua dor concordavam. Mesmo aquelas que já tinham outros filhos partilhavam deste sentimento de perda. Nenhum filho podia substituir aquele, que nunca chegaram a conhecer.Ninguém a avisara desta faceta, nem da dor emocional que se seguiria após realizar a interrupção - também esta palavra se tornara odiosa. Todas as atenções foram para o acto cirúrgico em si, ou como se lhe quisesse chamar. Do ponto de vista físico, fora relativamente simples, mesmo que matizado pelo sentimento de culpa de quem faz algo de errado e acrescido pelo facto de ser feito às escondidas, ainda que nas melhores condições. Quanto a ela, era exactamente aqui que residia o âmago da questão. O assunto era habilmente resumido à sua dimensão física quando esse era o seu aspecto de somenos importância. O que estava em causa não era material, mas sim um ser vivo e, por isso, qualquer abordagem, segundo parâmetros meramente físicos, era incompleta e, consequentemente, inadequada, insuficiente e deficiente.Era assim que ela se sentia, deficiente na sua personalidade e capacidade de avaliar, inadequada no seu desempenho enquanto mulher e mãe, e insuficiente na sua capacidade de amar e no seu grau de responsabilidade. O que fizera fora de um egoísmo atroz. Hoje, Rita estava convencida que fora enganada, pois, como paciente, tinha o direito de ser informada de todas as consequências do que iria fazer. Mas… hesitou. A realidade era que, em última análise, a responsabilidade era sua e se queria mais informações devia-as ter pedido e até exigido. Ao admitir isto a si própria apercebeu-se de que não quisera ouvir ninguém sobre o assunto. Estas palavras, apesar de duras, pareciam restituir-lhe alguma calma - enfrentava finalmente a verdade. Hoje, passados já alguns anos, interrogava-se quanto tempo a dor emocional ainda a iria acompanhar. Mas que cultura estamos a construir? Não queremos ter um filho porque interfere, demais, com a nossa vida: dá trabalho, rouba-nos tempo, altera os nossos planos e implica despesas. “É um grande comprometimento trazer uma criança ao mundo nos dias de hoje com tanta droga, crime…” e “sei lá se serei boa mãe, se ela será feliz, se terá sucesso na vida”... Parecia que estava a falar em ter um cão em vez do filho que já estava dentro dela - naquela altura claro.Cada vez o prazer vem mais do que é material, previsível e descartável e num crescendo frenético. Nunca tivemos tanto tempo de ócio, tantas diversões e oportunidades ao nosso alcance. E pelos vistos isso só nos tornou mais egoístas. Vangloriamo-nos de viver supostamente muito melhor do que os nossos pais mas, afinal, somos prisioneiros do consumismo e do medo. Medo de não termos dinheiro, medo de não sabermos amar ou educar. Que vida é esta em que abdicamos de viver com medo dos riscos que venhamos a correr? É uma inversão total de valores e tudo isto apenas em algumas décadas. Para ela era um sinal de decadência vindoura de uma sociedade que, aparentemente, está no seu auge - tal como acontecera com Roma.E indagou: quantos de nós não existiríamos se os nossos pais se tivessem deixado intimidar por tais temores, pavores ou terrores?"

Virginia Costa Matos - Escritora
Texto adaptado do livro Lavada por Dentro

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