Tuesday, January 30, 2007

Utopias ou talvez não

Sonhei com o passado e vi-te a sorrir e a correr com um grande ramo de rosas vermelhas.

Já não me lembrava como era lindo o teu sorriso, como ele bailava no teu rosto, como ele iluminava os meus dias.
Sorriso que me fazia esquecer: o cansaço, os aborrecimentos e os dias mais cinzentos.As rosas eram o espelho do teu carinho, expressavam o desejo de um encontro mais ousado.

Não há rosas sem espinhos e passados estes anos só eles ficaram. Será que o que nos unia não passou de uma ilusão?Tenho pena que de não ter sido capaz de manter as rosas, ou seja, o nosso amor e a nossa cumplicidade. Tivemos momentos maravilhosos.

Nunca esperei que me desses presentes caros ou que me levasses a sítios paradisíacos, bastava-me que, de vez em quando: me viesses esperar à saída do trabalho; me convidasses a jantar fora, mesmo que fosse na tasca da esquina ou irmos juntos ao cinema. Não imaginas o prazer que me dava, no final de um dia de trabalho, irmos à praia, com o pretexto de ir beber um café e juntos observarmos o bater das ondas ou o pôr-do-sol, num fim de tarde verão.
Foram momentos únicos que recordo com prazer.

Lembro com saudade, quando saías do turno, passavas por casa, davas o jantar aos filhos e encarregavas os mais velhos de tomarem conta da casa. Depois, vinhas esperar-me à saída do trabalho com um ramo de malmequeres ou rosas colhidas no jardim e íamos jantar fora. Era um jantar dialogante, fazíamos o balanço da nossa vida, comentávamos as últimas traquinices dos filhos mais novos e avaliávamos o aproveitamento escolar dos mais velhos. Muitas vezes, estes jantares acabavam com um passeio na praia. O bater das ondas, o céu estrelado, as luzes do café ao longe e o efeito do vinho bebido levava-me a desejar-te com todo o meu amor. As carícias e os beijos trocados, sob o olhar atento da lua, levava-nos a apressar o regresso a casa e, depois de verificar o sono das crianças, amávamo-nos sem pressas.

Ainda estremeço ao recordar esses momentos. Aqueles momentos, para mim, tinham algo de mágico ou de sagrado. Eram momentos de rara beleza, parecia que éramos abraçados por Alguém Transcendente que nos sussurrava ao ouvido Sejam felizes, não deixem que a maldade vos tire a alegria de viver.
Sei que os nossos filhos foram concebidos nesses momentos únicos, onde o amor era celebrado como se fosse um Bem Supremo.
Será que tudo isto não passou de uma ilusão? Não foi ilusão. Contigo vivi momentos de rara beleza e muita felicidade.
Apesar de tudo continuas a ser uma pessoa importante para mim.


Nota: Sonhar não custa e qualquer sonho tem qualquer coisa de verdade.

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