Wednesday, November 29, 2006

Aniversário da minha Mãe

Hoje é dia do aniversário do teu nascimento.
Partiste cedo e eu tenho tantas saudades, saudades do teu sorriso, da tua disponibilidade e da tua compreensão.
Às vezes, a vontade de estar contigo é tanta, que sinto a tua presença sorridente e tranquila e segredas-me: “ouve o teu coração e tudo correrá bem, mas não faças batota”. Sei que, se seguir o teu conselho, não tenho com que me preocupar porque tu, apesar de não saberes ler, deixaste-nos um grande tesouro. São os valores que dignificam o ser humano.
Apesar da tua partida prematura, deste mundo, sei que estás connosco a proteger-nos como sempre fizeste.

Ofereço-te este poema de Eugénio de Andrade.
Pequena elegia de setembro
Não sei como vieste, mas deve haver um caminho para regressar da morte.
Estás sentada no jardim, as mãos no regaço cheias de doçura, os olhos pousados nas últimas rosas dos grandes e calmos dias de setembro.
Que música escutas tão atentamente que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar? Ou é dentro de ti que tudo canta ainda?
Queria falar contigo, dizer-te apenas que estou aqui, mas tenho medo, medo que toda a música cesse e tu não possas mais olhar as rosas. Medo de quebrar o fio com que teces os dias sem memória.
Com que palavras ou beijos ou lágrimas se acordam os mortos sem os ferir, sem os trazer a esta espuma negra onde corpos e corpos se repetem, parcimoniosamente, no meio de sombras?
Deixa-te estar assim, ó cheia de doçura, sentada, olhando as rosas, e tão alheia que nem dás por mim.

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