MOMENTOS FELIZES

Hoje encontrei uma foto que me fez lembrar o passado. Era no tempo em que não tinha tempo. Estava ocupada a criar os meus filhos. Nessa altura eram três, só mais tarde veio a última. Foram tempos de muito trabalho e de muitas preocupações. No entanto as alegrias foram sempre maiores. Os piqueniques ao fim de semana nos mais variados sítios na companhia dos tios e primos, era a alegria completa, ainda hoje quando se juntam, recordam esses tempos com muita saudade. As idas à Fonte da Telha. As férias passadas no Parque de Campismo na Ilha de Tavira recordam-me momentos de grande tranquilidade e muitos momentos felizes, ai conseguia descansar um pouco: As crianças, as minhas e regra geral alguns sobrinhos, iam e vinham da praia com muita animação, o pão encomendado de véspera comido com compota e manteiga, porque o dinheiro era escasso, a compra das bolinhas anunciadas na praia, regra geral só no último dia, as idas a Tavira nos barcos apanhados nas quatro águas, nesses dias íamos ao supermercado e comprava-se leite, sumo e material para fazer sandes e jantávamos em qualquer banco de jardim, o bolo comprado em Tavira para comemorar um dos aniversários do primo que faz anos em Agosto. A foto em cima regista um desses momentos, a praia, o piquenique e a foto para posteridade.

Momentos felizes Todos aspiramos a ser felizes. É um dos direitos mais antigos da humanidade. No entanto há quem pense que não o consegue ser. Este sentimento resulta de um conceito errado do que é a felicidade. Deus criou-nos para seremos felizes e seria insensato da nossa parte pensar que Ele nos queira submeter a contínuas desgraças. A felicidade deixou de ser um ideal individual para ser um ideal colectivo. Convencionou-se que a felicidade passa por manifestações exteriores de ter. Ter carro, ter a casa bem recheada, Ter aquela viagem anual cara, ter livros caros, que muitas vezes ficam esquecidos nas prateleiras porque ninguém os lê. Mas ter boas maneiras, ser educado, ter atenção com os outros, saber ouvir e sobretudo dar valor ao que bom nos acontece na vida, são coisas secundárias para muitos. Andam atarefados a ter dinheiro para “comprarem mais felicidade” que se esquecem que a verdadeira e duradoura felicidade está dentro de nós. É a nossa atitude perante a vida que gera momentos felizes. Ontem tive mais momento de imensa felicidade. A minha família continua a aumentar e parece que mais um ser está a caminho. Sou feliz pelos filhos que tenho e pela forma como tem a vida deles orientada. Sou feliz pelos companheiros/a que escolheram para partilharem a sua vida. Sou feliz ao ver o meu neto, que fez um ano no passado mês de Fevereiro, a correr na areia deslumbrado pelo que vê. Sou feliz porque tenho saúde e tenho o suficiente para poder viver a minha vida com dignidade. Sou feliz porque tento aceitar atitudes ou gestos com os quais não concordo, embora esta aceitação me tenha dado muito trabalho. “Se alguém não encontra a felicidade em si mesmo, é inútil que a procure noutro lugar” La Rochefoucauld

"Obrigadinho pela vergonha

A todos os bancários com 58 anos que estão há dez anos na reforma. A todos os jornalistas com dentaduras como teclados de piano pagas quase de borla antes que lhes tirassem essa trafulhice. A todos os maus professores que subiram na carreira só porque passaram tantos anos no ensino quanto os passados pelos bons professores. A todos os mestrandos com idade para saber que nunca exercerão o que estudam, mas que vão aproveitando porque entretanto sempre vai pingando a bolsa obtida graças à influência de um familiar. A todos os condutores de Mercedes que o têm porque o seu nível de patamar do emprego diz "direito a carro de classe X", quando a qualidade com que exercem o trabalho seria mais para andar de burro. A todos os autarcas que fizeram obras em casa e não precisaram de pagar por elas. A todos, pobres e ricos, donos de jantes de liga leve e filhos com educação ainda mais leve. A todos os que lá em casa bebem vinho vulgar mas durante a semana, com factura metida na tesouraria da empresa, hesitam entre o Pera Manca e um Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa. A todos os empresários que declaram às Finanças prejuízo e aos amigos declaram que este ano vai ser Maldivas. A todos: obrigado. Ontem, vendo os meus feitores, humildes e com a boina enrodilhada nas mãos, prestando contas à dona alemã da quinta, senti a minha parte da vergonha. Mas a todos, obrigado: graças a vocês sei que há maiores culpados."

por FERREIRA FERNANDES

Diário Notícias 03-03-2011