Monday, November 03, 2014

O interior está cada vez mais enrugado



Os  jovens vão saindo para outras paragens e poucos por  cá ficam.
Os velhos ficam para traz e muitos vivem sozinhos em casas com poucas condições de habitabilidade.
Ainda hoje passou uma reportagem num canal televisivo sobre o envelhecimento dos concelhos da Sertã, Proença-a-Nova, Mação e Vila de Rei.
Pessoas com mais de 80 anos vivem sozinhas e quando não conseguem tomar conta da sua vida vão para o Lar.
Estas pessoas viveram vidas duras e de muito trabalho. Começaram a trabalhar quando eram crianças, naquele tempo não era considerado trabalho infantil. Trabalhavam de sol a sol e em trabalhos muito duros. Uma senhora dizia. – As lágrimas corriam-me pela cara abaixo quando carregava à cabeça carregos com muito peso.
Apesar da idade tem projectos de vida, cultivam uma hortinha e tem alguns animais. Ouvem a rádio local e vem um pouco de televisão, para alguns é a única companhia.
Estes velhos são mais jovens do que muitos jovens que por ai andam.
Vidas duras e solitárias, agradecem a Deus o pouco que tem e exibem doces sorrisos e transmitem uma invejável calma. Afirmam que são felizes.



Sunday, November 02, 2014

Qual o lugar dos idosos


A maneira como tratamos os mais velhos diz muito como são os valores da sociedade onde estão inseridos. 
Os idosos não se podem deitar fora e nem se podem ignorar, são pessoas que tem muito valor e devem ser bem tratadas. 
Muitos conseguem manter a dignidade a que tem direito porque são cuidados por outros idosos da mesma idade ou até mais velhos.
É uma tristeza ver pessoas com alguma idade serem despojados dos seus direitos, apesar de estarem ainda capazes. Deixam de ter direito de tomarem conta da sua vida. Vão para lares onde, muitos, são esquecidos. Outros continuam em suas casa, abandonados, privados do seu dinheiro e da sua liberdade.
Muitos idosos sofrem de violência doméstica e sofrem-na em silêncio ou porque já não tem voz ou porque não são capazes, por vergonha, de denunciar os familiares.
Esta semana conheci um homem de 93 anos que toma conta da mulher que sofre de Alzheimer, há cerca de 20 anos e diz com o brilho nos olhos. – Cuido da minha mulher e ainda trato do meu jardim.
Conheço mais exemplos destes e curiosamente são homens. As suas mulheres começaram a morrer aos poucos e estes homens não se esqueceram do compromisso que assumiram no dia do casamento.
 Aqui há duas reflexões a fazer: Primeiro estes cuidadores continuam a fazer parte ativa da sociedade e com direito a ter a sua própria vida. Segundo dão alguma dignidade às suas/seus companheiras/companheiros, que apesar das suas demências continuam a ter a sua dignidade.
Não foram “proibidos” de trabalhar
Não foram “obrigados” a deixar a sua casa e obrigados a conviver com novos inquilinos, a ter outros horários e outras rotinas.
Não há dúvida que precisamos de projetos e ideias que envolvam os mais velhos, que os integrem e que possam contar com o seu contributo.
Mas se é verdade que a sociedade não cumpre o seu papel também muitos idosos o não cumprem.
Muitos reformados relativamente jovens e com muitas capacidades instalam-se e acomodam-se e acabam por se deixar ficar em casa e nada fazem nem por si nem pela sociedade.
Precisamos de uma sociedade que tenha lugar para os idosos e conte com eles para um mundo mais justo e humano e os idosos não se podem acomodar com as suas incapacidades.