Wednesday, November 21, 2007

Dias de chuva

Quando eu era pequena gostava de vir para a rua chapinhar nas poças de água que a chuva deixava nas ruas, sem asfalto, da minha aldeia. Nem imaginam o prazer que essas brincadeiras me davam. E quando a chuva se ia embora e em seu lugar aparecia a geada, essas poças transformavam-se em pontes transparentes e quebradiças que eu teimava em atravessar. Quando chegava a casa não me livrava de um raspanete por chegar toda molhada sujeita a ficar doente, a minha mãe obrigava-me a trocar de roupa e que bem sabia o chá quentinho bebido junto à lareira crepitante. Nestes dias de chuvosos recordo esses tempos com saudade e recordo sobretudo o carinho da minha mãe que não conseguia zangar-se comigo e o colo do meu pai, que nos dias de chuva, estava mais disponível para me mimar. Hoje com mais de cinquenta anos, por vezes, dou por mim a desejar o colinho dos meus Pais. Tive muita sorte os meus Pais eram seres humanos fabulosos.
Espero passar a herança de afectos e valores humanos, que eles me deixaram, para os meus filhos.

Wednesday, November 14, 2007

RECOMEÇAR

Fala-se da velhice, da adolescência e da meninice. Da menopausa da mulher pouco se fala ou quando se fala é, na maioria das vezes, para vender algum produto para lhe atenuar os efeitos associados. Esta fase da mulher continua a ser um tabu, uma vez que está relacionada com a sua sexualidade. A sexualidade feminina, face a educações castradores e a falsos pudores, ainda não é vista em pé de igualdade com a sexualidade masculina. Muitos ainda a vêem como um serviço para de satisfação do homem. Conservadorismo e falsos pudores levam a distorcer uma realidade que deveria ser encarada com naturalidade e sem estigmas.
A esta fase da mulher estão associados juízos que tem a ver com a perda de vitalidade e de juventude. Outras transformações também lhe estão associadas; mudanças bruscas de humor excessiva sensibilidade, estados depressivos, insónia e a lista podia continuar. Parece que se fala de uma doença incurável. Assim a mulher tende a calar-se para não ser vista como uma coitadinha e alguns homens pouco esclarecidos ou porque a chama do amor se foi aproveitam esta altura para procurarem mulheres mais novas para se afirmarem na sua virilidade e as mulheres ou se deixam abater e se dão por vencidas ou começam uma nova fase da sua vida, mais compensadora ganhando confiança em si próprias conscientes das suas capacidades.
Reconheço que esta fase da mulher tem de ser encarada com muita tranquilidade, por elas e pelos seus companheiros, porque as mudanças não ocorrem só a nível hormonal. É nesta fase que os filhos saem de casa, os pais morreram, a reforma aproxima-se e tudo isto gera conflitos interiores que, se não forem bem geridos, podem levar a rupturas no seio do casal. Não é por acaso que nesta fase da vida surgem muitos divórcios.
Se houver amor e respeito entre o casal esta fase pode ser um novo recomeço, mais tempo para estarem um com o outro, tempo para passear e a nível de sexualidade ela pode ser mais compensadora. Se houver uma verdadeira comunhão de vida entre homem e mulher esta pode ser o recomeçar de uma bela história de amor.
Quantos de nós vimos casais de idade avançada a passear na rua de mão dada e quando falam dos companheiros os seus olhos brilham de alegria.

Tuesday, November 13, 2007

Aniversário

Hoje faz anos uma pessoa que me é muito querida. Espero que a vida lhe dê tudo o que ela merece.
Para ela transcrevo o poema "Se..." que para mim é uma exortação à Vida.

"Se

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas

Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos

Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres

Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos

Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo

Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo

Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente

Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender

Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado

Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam

Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!"

Tradução de Vitor Vaz da Silva do poema "IF" de Rudyard Kipling)

Tuesday, November 06, 2007

Reflexão

Nos dias que correm vivemos a vida apressadamente. Não temos tempo para reflectir. Abrimos o jornal, ligamos a televisão, e somos bombardeados com notícias de morte, guerra, desolação e medo. Assistimos a acontecimentos terríveis, em directo, mesmo que aconteçam no outro lado do mundo.
Raramente reflectimos seriamente sobre o que acontece, na esperança que tudo se resolva sem a nossa intervenção. Inventamos culpados para fugir à realidade que nos rodeia: a violência está na exclusão social, a polícia não desempenha o seu papel, o Estado é inoperante, os outros que resolvam têm tanta obrigação como eu, etc...E assim vamos vivendo acomodados e cada vez mais insensíveis e virados para os nossos problemazinhos.
Teimamos em calar os nossos sentimentos mas, do mesmo modo que respiramos, precisamos de afectos para sermos felizes. Os amigos, a entreajuda, a partilha, a valorização pessoal pode ser o caminho. Este caminho não tem custos, tem apenas disponibilidade mental mas, é muitas vezes abandonado e substituído pela consciência colectiva da desgraça que nos é imposta pelos órgãos de comunicação social e pelos “amigos”.
Se estivermos disponíveis é tão fácil ouvir os outros, expressar as nossas necessidades, pedir ajuda e ajudar, valorizar as conquistas dos outros e reconhecer que somos únicos.
O amor, dar e receber equilibra a nossa vida e torna-a mais harmoniosa e o pouco que fizermos hoje, vai tornar os nossos dias de amanhã mais tranquilos.

As crianças se forem respeitadas e amadas, no futuro, o Mundo será melhor.