Friday, January 25, 2019

Tradições: Matança do porco em terras de Vila de Rei, Castelo Branco

A matança do porco nas aldeias de Vila de Rei, era prática comum em todas as famílias.. A carne salgada e os enchidos confecionados e guardados em talhas de barro com azeite, eram o sustento de toda a família para todo o ano.

Também era uma festa de família e amigos, eram dias de convívio muito saudável. Lembro-me desses tempos com alguma saudade,

O cerimonial era complexo e cheio de simbolismo.
O porco era apanhado na pocilga e encaminhado para um local onde estava uma banca onde era colocado. Era seguro por alguns homens, O matador com um golpe certeiro feito por uma faca que por aqui se chamava sangradeira. O sangue corre para um alguidar no qual se colocava sal e vinho, tinha de ser mexido até arrefecer para não coagular. Esse sangue era aproveitado para fazer as morcelas.
Seguia-se a chamusca para limpar a pele dos pelos. Regra geral utilizava-se carqueja seca previamente.. Eram lavados abertos ao meio e pendurados no teto da loja, ai. ficavam para o dia seguinte.

As tripas eram lavadas regra geral, por mulheres, em água corrente nos ribeiros..Para o efeito utiliza-se sal, vinagre e limão, depois de bem lavadas eram utilizadas na confeção dos enchidos.. Nesse dia à noite, eram feitas as morcelas.

No dia seguinte era o dia da desmancha, as carnes eram separadas; uma para serem salgadas e guardadas na salgadeira e outras para fazerem os enchidos..
Havia o costume de trocarem os presuntos por carne gorda. Esta temperava melhor a hortaliça e rendia mais. porque o toucinho da troca era mais do que o presunto,
Como aperitivos eram servidas morcelas assadas e lombo assado acompanhado por água-pé ou vinho.
Esta primeira parte era feita pelos homens. 
Depois das carnes separadas as mulheres cortavam-na em cubos pequenos . depois de cortadas eram temperadas e aguardava-se algum tempo para fazer os variados enchidos.
Ao almoço era servido uma espécie de cozido com as carnes frescas do porco e morcelas.

Eram dois dias de são convívio, adultos e crianças faziam uma pausa na rotina diária..

Receitas dos enchidos:
Estas receitas podem variar de família para família:.

Morcelas
-As gorduras das tripas de um porco,. A gordura deve ser cortada muito fina, 
-200 gramas de cominhos
-O sangue de um porco. Pode juntar um pouco de vinho branco
-Sal e alhos picados

No alguidar onde se aparou o sangue junta-se o vinho, o sal, a gordura cortada muito fina, os cominhos e os alhos picados.tem-se as tripas que foram previamente lavadas com sal, limão e vinagre. Enche-se as tripas com essa mistura e coze-se com uma agulha e linha.Depois das tripas cheias colocam-se numa panela com água a ferver. Para saber se estão cozidas pics-se com uma agulha se sair liquido incolor estão pronta. Depois disso tiram-se e poem-se ao fumeiro durante três ou quatro dias.
Depois de secas eram guardadas em talhas de azeite. Comem-se cozidas ou assadas são um bom acompanhamento para couves cozidas..


Chouriços

Febras de porco
Alho
Vinho branco sal
Pimentão ou colorau

As febras cortadas em cubos pequenos são colocam-se num alguidar temperam-se com alho picado, sal , vinho e o pimentão. Este preparado deve ser mexido durante três dias. Depois disso encem-se tripas e põe-se a secar no fumeiro durante oito ou dez dias.
Depois de secas limpam-se e guardam-se em potes de barro em azeite.
Os chouriços eram comidos durante o ano.


Farinheiras

8 kg de farinha
5 quilos de gordura
Uma cabeça de alhos grande
2,5 dcl de azeite
7,5 dcl de vinho branco

A gordura cortada finamente e coloca-se no alguidar, junta-se o alho picado , o sal e o vinho. Deixa-se repousar dois ou três dias mexendo todos os dias.
No fim deste tempo deita-se água quente até cobrir a gordura, junta-se a farinha e o azeite. mexe-se bem enchem-se as tripas.e depois de prontas, lavam-se, e penduram-se no fumeiro.
Depois de secas guardam-se em potes de barro em azeite.
Comem-se durante o ano.



 

Sunday, January 20, 2019

Tradições, o fabrico do pão

O pão da minha infância

O pão, desde tempos antigos, faz parte da alimentação humana, o pão levedado seria descoberto no Egipto no ano 6000 aC.
 Alguns povos usam o pão Azímo, não tem fermento.

O fabrico do pão não era um processo simples. Na maioria das casas, começava-se pela sementeira do cereal até à transformação do grão em farinha  O grão era moído em moinhos movidos a água ou a  vento, só depois era feito o pão.

Na minha casa, lembro-me como se desenrolava todo esse processo.

Semeava-se o trigo em terras de sequeiro. A terra era lavrada ou cavada por homens. Depois da terra preparada, fazia-se a sementeira. O trigo nascia mas quase sempre acompanhado de ervas daninhas que era necessário arrancar. Quando as searas estavam douradas era sinal que estavam prontas para serem ceifadas. 
Depois do trigo cortado eram feitos molhos que eram transportados para a eira. Esta era feita com enormes lages. O cereal era malhado por homens com moeiras que iam batendo no cereal para tirar todo o grão. Outro processo era a utilização de animais, estes pisavam-no obrigando a sair o grão do seu casulo. Para as crianças era um dia de festa, brincavam na palha e depois havia merenda melhorada.
O grão limpo da palha era guardado em grandes arcas de madeira.
Esperava-se pelo inverno para a água poder mover os moinhos para obter a farinha, que iria dar origem ao saboroso pão de trigo.

A confeção do pão propriamente dita;
Em maceiras feitas de madeira ou alguidares de barro amassava-se a farinha com água morna, juntava.se um pouco de sal e fermento.
Depois de amassado repousava cerca de 4 horas em 
 ambiente aquecido.
Quando a massa dobrava de volume, estava pronta para moldar os pães que repousavam, mais um pouco, num tabuleiro de madeiro, forrado com uma toalha branca. Nesta altura, o forno previamente aquecido a lenha, estava pronto para os receber.
Passados menos de meia hora estavam prontos para nos alimentar.
O pão, muitas vezes, era guardado na arca do trigo para não endurecer. Havia pão para cerca de uma semana.
Tenho saudades desse pão.